História e Preservação

O povoado de Serra dos Alves, situado em uma região de grandes paredões naturais da Serra do Espinhaço, surgiu por volta de 1850, quando os bandeirantes começaram a explorar ouro e cristais na região. Entretanto, os resultados da exploração mineral em Serra dos Alves, bem como em Itambé do Mato Dentro e Itabira, não eram tão significativos quanto os obtidos em Ouro Preto e Mariana, localidades onde a extração era mais fácil. Isso explica porque o povoado dedicou-se às atividades da agricultura e pecuária de subsistência. A economia, ainda hoje, gira em torno dessas atividades.

Os moradores cultivam mandioca, banana, cana-de-açúcar, café, milho e feijão, com pequenas criações de porcos, galinhas e gado leiteiro. Fabricam rapadura, fubá, farinha de mandioca e várias quitandas como biscoitos de polvilho, brevidades, broas, bolos de fubá e outras.

O nome “Serra dos Alves” provém dos primeiros moradores, também proprietários da Fazenda das Cobras, a mais antiga da região. Em 1846, um herdeiro da família Alves recebeu de herança as terras da “Fazenda do Tanque”, uma das mais prósperas da época, hoje demolida. Ainda hoje, os moradores da Serra dos Alves conservam os costumes, os hábitos simples e o modo de vida tranquilo da época “dos Alves”.

Os registros mostram que até meados do século XIX, houve um intenso trânsito de tropeiros na região, deixando herança na culinária e nas histórias das famílias.

Em 1866, alguns moradores doaram um hectare de terra para erguer a bela Capela de São José. Os próprios doadores e outros habitantes da região construíram a capela e, logo em seguida, o cruzeiro e o cemitério. A construção dessas três edificações permitiu a fixação do povoamento, estabelecendo um vínculo de pertencimento por meio da vida religiosa e do culto aos antepassados.

O cruzeiro foi erguido no Adro da Capela, com adereços que representam o martírio de Cristo, e permanece até os dias de hoje conservando os mesmos símbolos.

O cemitério encontra-se no mesmo local com algumas modificações.

E a capela, construída com características coloniais, estrutura autônoma em madeira, com vedação em adobe e pau a pique sobre embasamento em pedra, foi sendo, ao longo dos anos, substituída por alvenaria de tijolos, rebocada e pintada com látex. Dentro, o retábulo (altar) em madeira, é muito bonito. Suas imagens são de grande valor histórico. As peças são feitas em madeira, barro e papel machê. No interior da Capela, há uma inscrição da fundição do sino de São Paulo, datada de 1727.

A comunidade mantém seus costumes nas festas religiosas: Festa de São José, Festa de Nossa Senhora da Conceição, Festa do Divino Espírito Santo e Festa de Nossa Senhora do Rosário. Nessas festas, as marujadas são sempre destaque com suas danças e batuques.

Em 2004, o harmonioso conjunto arquitetônico e histórico, formado pela capela, o cruzeiro e as sete casas em volta do Adro da igreja, foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Municipal de Itabira. Importante elemento de identificação para a memória do itabirano, o povoado da Serra dos Alves mostra aos visitantes a beleza singela e rural do início do século XIX, com os ares preservados de um tempo antigo e bucólico.

 

A comunidade de Serra dos Alves possui uma identidade cultural própria, muito forte. Ainda hoje, muitos moradores utilizam apenas o fogão a lenha para cozinhar. A prática religiosa segue a velha tradição de reza coletiva, sem a participação de padre, com leituras e cânticos participativos. Ainda hoje, os moradores assam os quitutes em fornos de barro no terreiro; conduzem a boiada pelas estradas; plantam, torram e moem seu próprio café; usam o moinho de pedra para triturar o fubá do angu; fazem seu próprio sabão e produtos cosméticos; curam suas doenças com plantas medicinais do local e praticam muitos outros hábitos de outrora.

 

Já na chegada ao povoado, os visitantes são envolvidos pela atmosfera peculiar da quietude da Serra dos Alves. A hospitalidade e a simplicidade são traços marcantes dos moradores. Em poucos minutos, o sossego e as prosas relaxantes, transformam o estresse da vida urbana em grande bem-estar e muita paz!